01/07/2023 às 21h43min - Atualizada em 01/07/2023 às 21h43min

Maceió fica abaixo de 1 milhão de moradores e especialista cita afundamento de bairros

Por: Assessoria
Professor Dilson Ferreira / Foto: Cortesia
 

Apesar da estimativa do próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Maceió não alcançou 1 milhão de habitantes. Segundo o Censo 2022, divulgado na última quarta-feira (28), a capital alagoana tem 957.916 moradores, um crescimento de 2,71% em comparação ao Censo 2010.

O urbanista e professor da UFAL, Dilson Ferreira, explica porque Maceió não atingiu as expectativas e ficou abaixo de 1 milhão de habitantes. Ele tambem fala como isso afeta o município.

Confira abaixo:

Quais são os principais fatores que contribuíram para o crescimento abaixo das expectativas em Maceió?

Certamente, um dos motivos é a emigração dos maceioenses para outros municípios, impulsionada pelos problemas enfrentados devido à mineração da Braskem em cinco bairros. Além disso, o aumento do valor por metro quadrado de construção, o surgimento de novos empreendimentos imobiliários no litoral e o isolamento social também desempenharam um papel significativo.

Como o afundamento de bairros em Maceió impactou o deslocamento dos moradores da cidade?

Cerca de 55 mil pessoas foram afetadas, principalmente durante a pandemia. Diversos fatores contribuíram para que essas pessoas se mudassem, principalmente para municípios vizinhos como Marechal Deodoro, Rio Largo, Barra de São Miguel e até mesmo Paripueira.

A saída dos moradores do bairro Pinheiros gerou uma alta demanda por compra e aluguel em bairros centrais de Maceió, o que resultou em um aumento significativo no preço por metro quadrado. O valor do metro quadrado subiu aproximadamente 1/3 devido a essa demanda. Além disso, o preço do INCC (Índice Nacional da Construção Civil) acumulou um aumento de 37,6%, impactando todo o mercado imobiliário de Maceió.

Esses fatores impulsionaram a emigração dos moradores afetados e o surgimento de novos empreendimentos em outros municípios. Além disso, a pandemia também contribuiu para a busca de isolamento social em locais mais próximos à natureza, como as áreas litorâneas do sul de Maceió.

O planejamento urbano de Maceió tem sido um fator limitante para o crescimento da cidade? Por exemplo, existe escassez de novos bairros para acomodar os moradores?

Sim, existem fatores limitantes que impactam o crescimento de Maceió. Um desses fatores é a falta de atualização do plano diretor da cidade. O plano diretor de Maceió é de 2005 e deveria ter sido revisado até 2015, mas estamos atualmente com um atraso de oito anos nessa revisão. É essencial promover debates sobre o presente e futuro de Maceió, considerando os grandes problemas que limitam o crescimento em algumas regiões.

Um exemplo disso é a parte alta do Tabuleiro, onde surgiram diversos loteamentos que posteriormente foram fechados e transformados em condomínios. Além disso, em outros locais, a população fechou ruas, transformando-as em condomínios privados, como é o caso do Jardim Petrópolis, Reserva do Vale, Monte Belo, Ruas da Serraria e do Tabuleiro, entre outras áreas da cidade. Isso compromete a mobilidade urbana e dificulta o planejamento, uma vez que vias que poderiam ser utilizadas para aliviar o tráfego se tornaram ruas privadas. Ao mesmo tempo, locais que foram planejados para serem parques públicos, como o Vera Arruda, tiveram ruas abertas pelo poder público, invertendo o propósito original dessas áreas.

O afundamento de cinco bairros também é um grande problema, pois desencadeou a migração da população para áreas vizinhas que não possuíam infraestrutura urbana adequada para receber essa demanda, como Stella Maris, Jatiúca, Antares, Cruz das Almas e o Litoral Norte. Na Jatiúca, por exemplo, existem problemas como sobrecarga do sistema de esgotamento de água pluvial, vazamento de esgoto nas ruas, avanço do mar, grande volume de veículos nas vias e construções verticais sem infraestrutura adequada para suportar esses empreendimentos, incluindo hotéis.

Na orla lagunar, também enfrentamos grandes problemas relacionados a enchentes e drenagem urbana, que causam alagamentos em pelo menos sete bairros ao redor do canal da levada durante o período chuvoso. Além disso, há falta de saneamento, moradia e infraestrutura mínima para atender a população carente de serviços públicos básicos. Esse problema se repete em diversas áreas da cidade, com mais de 20 pontos de alagamentos em vários bairros de Maceió, devido à falta de um sistema de drenagem eficiente.

Como o crescimento populacional abaixo de 1 milhão de habitantes afeta o planejamento urbano e a infraestrutura da cidade de Maceió?

Existem fatores que afetam Maceió, principalmente no que diz respeito à perda de arrecadação municipal devido à emigração dos maceioenses para outros municípios.

Além disso, o turismo, embora possa compensar parte dessa perda de arrecadação, também traz problemas ao alterar a característica de alguns bairros, que antes eram predominantemente residenciais, para se tornarem locais com grandes empreendimentos hoteleiros e comerciais, sem um planejamento adequado de um plano diretor moderno. Isso coloca pressão sobre a infraestrutura de determinadas regiões, incluindo sistemas de saneamento, trânsito e mobilidade.

Atualmente, Maceió enfrenta quatro desafios em seu planejamento urbano.

São eles:

- A presença de cinco bairros fantasmas, que representam uma vasta área inativa e desocupada.

- A região da orla lagunar, que sofre constantemente com enchentes, além de apresentar problemas de pobreza urbana.

- A existência de bairros particulares, caracterizados por loteamentos fechados.

- A falta de um plano estratégico abrangente, que inclua um plano diretor, códigos de urbanismo, mobilidade, meio ambiente, saneamento e drenagem.

Esses aspectos precisam ser abordados e discutidos para estabelecer o planejamento urbano de Maceió.

Essas questões são fundamentais para o desenvolvimento e crescimento sustentável da cidade, e é necessário um debate amplo para abordar e solucionar os desafios enfrentados em relação ao planejamento urbano de Maceió.


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