01/10/2024 às 12h23min - Atualizada em 01/10/2024 às 12h23min

No município de Inhapi, estudantes da rede estadual disputam os Jogos Olímpicos Koiupanká

Realizada de 17 a 24 de setembro, competição teve a cobra como mascote, simbolizando a renovação de ciclos

Ana Flávia Oliveira e Cecília Calado (Ascom Seduc), sob supervisão
 

Trazendo consigo a força da tradição, da ancestralidade e do esporte, os Jogos Olímpicos Koiupanká movimentaram a cidade de Inhapi, no Sertão alagoano. Entre os dias 17 e 24 de setembro, a Aldeia do Roçado se transformou em um ponto de encontro para cerca de 300 estudantes indígenas dos povos Kariri Xocó, Xucuru Kariri Wassu Cocal, Katokim, Koiupanká e Karapotó, que não apenas competiram, mas também celebraram seus laços culturais e raízes históricas.

 

Os Jogos, realizados a cada dois anos desde 2011, sempre trazem um mascote especial, geralmente um animal carregado de simbolismo na mitologia do povo Koiupanká. E este ano, o animal escolhido foi a cobra, representando a renovação dos ciclos da vida e convidando à reflexão sobre as conquistas e desafios que marcam a trajetória do povo indígena.

 

“O tema deste ano foi a colheita. Nesses jogos, o povo koiupanká celebrou, junto aos demais povos indígenas e todos aqueles que nos apoiam nessa caminhada, mais uma grande conquista, que é a colheita do saber. E esse saber é fruto da ‘árvore sagrada’. Tivemos, portanto, uma grande festa, em que partilhamos, principalmente, o respeito e a harmonia entre os povos”, explicou o pajé da Aldeia Roçado, Francisco José, que também é diretor da Escola Estadual Indígena Anselmo Bispo de Souza e para quem os dias de disputa são ‘um encontro sagrado entre os povos, uma chance de reafirmar a força de suas tradições’.

 

Nesta edição, cuja novidade foi o futsal, 17 modalidades estiveram em disputa. E a maioria delas deriva de atividades como a caça e a pesca, a exemplo das que fazem uso da zarabatana e do arco e flecha.

 

Ainda segundo o pajé Francisco José, os Jogos também tiveram como objetivo celebrar a conquista da sede da Escola Estadual Indígena Anselmo Bispo de Souza, um marco significativo para a comunidade indígena. Isso porque, até a inauguração do novo espaço construído pelo Governo de Alagoas, a escola funcionava em um prédio improvisado.

 

“Educação e esporte são um casal perfeito, e nós também nos preocupamos com isso. E não poderíamos deixar de celebrar, com nossos cantos e coreografias, que complementam os nossos rituais, mais este grande avanço”, emendou, orgulhoso, o indígena, destacando também os resultados obtidos pela Escola Anselmo Bispo no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

 

“Fomos uma das escolas que mais se destacou no IDEB, atingindo o melhor desempenho entre as instituições indígenas e não indígenas em três anos consecutivos. Aqui estamos para contribuir, para dar bom exemplo”, reforçou.

 

Exposição do trabalho em São Paulo

No evento de celebração da cultura indígena, a artista Geovana Cléa foi escolhida pela segunda vez como madrinha dos Jogos Olímpicos Indígenas Koiupanká. Para ela, a escolha representa não apenas uma grande responsabilidade.

 

“É uma honra participar dos jogos novamente como madrinha. Acredito no potencial dos jogos e luto para que as pessoas abram o coração e entendam o papel dos indígenas como guardiões da natureza. Eles transmitem valores que são essenciais para todos nós, e os Jogos têm sido um meio para espalhar essa mensagem. Estamos trabalhando, inclusive, para elevar o evento a um patamar nacional, expandindo, assim, sua visibilidade”, avaliou Geovana, acrescentando que fará uma exposição em São Paulo, onde apresentará obras concebidas com o ‘barro sagrado da cultura indígena’, reproduzindo, assim, o chão rachado do Sertão. 

 

 

O projeto visa divulgar cada vez mais a riqueza cultural dos Koiupanká. “Acredito que conseguiremos chamar a atenção da mídia nacional, e isso é apenas o começo”, complementa Geovana.

 

A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) conta com 17 escolas estaduais interculturais para atender aos povos indígenas de Alagoas com a oferta de uma educação de qualidade e com respeito às tradições de cada comunidade. Ao todo, estas unidades reúnem mais de três mil estudantes.


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